Pará: multinacional usou duto clandestino para escoar resíduos tóxicos

Pará: multinacional usou duto clandestino para escoar resíduos tóxicos

Fonte: Hora do Povo , Publicado em 22 de Fevereiro de 2018

O laudo do Instituto Evandro Chagas (IEC) divulgado nesta quinta-feira (22), em Belém, confirma contaminação em diversas áreas de Barcarena, nordeste do Pará, provocada pelo vazamento das barragens de rejeitos de bauxita da mineradora norueguesa Hydro Alunorte. Reportagem de Carlos Mendes, do Blog Ver-o-Fato, publicada pelo HP, no fim de semana, já antecipava a gravidade do crime ambiental cometido pela multinacional (leia mais)

Moradores de Barcarena denunciaram o vazamento no último sábado (17). Fotos feitas no município mostram uma alteração na cor da água do rio, que seria a lama vermelha rejeitada na operação da fábrica (bauxita e soda cáustica). Em nota, a empresa informou que “acaba de tomar conhecimento sobre o laudo e irá analisar o material para se pronunciar sobre o assunto”.

Duto clandestino

Depois de vários desmentidos, a mineradora  foi obrigada a admitir a existência de um duto clandestino que seria responsável pelo vazamento de rejeitos de bauxita em Barcarena. A prefeitura de Barcarena descobriu o duto clandestino que estaria contaminando as águas da região. Nesta sexta-feira estiveram na empresa diversas autoridades e uma comissão de deputados federais para exigir explicações da empresa. Tanto a mineradora quanto os órgãos responsáveis pela fiscalização vinham mantendo silêncio em relação às denúncias dos moradores da região.

O vazamento afetou as áreas das comunidades de Bom Futuro, Vila Nova e Burajuba. “A empresa fez uma ligação clandestina para eliminar esses efluentes contaminados que estavam acumulados dentro da fábrica para fora da área industrial, contaminando o meio ambiente e chegando às comunidades”, destacou Marcelo Lima.

No material coletado no dia 17 na barragem, na tubulação com ligação clandestina e no igarapé localizado na vila Bom Futuro, os índices de sódio, nitrato e alumínio estavam acima do permitido, além do PH estar no nível 10. “Ou seja, o líquido estava extremamente abrasivo e nocivo aos seres vivos”, destaca o pesquisador.

A empresa norueguesa e o governo do estado haviam escondido e desastre da semana passada e negado a contaminação, apesar das denúncias dos moradores, mas o pesquisador em saúde pública do IEC, Marcelo de Oliveira Lima, contrariando a versão divulgada pela empresa, confirmou o desastre. “Foi constatado que houve vazamento das bacias de rejeitos da bauxita. Fotografamos os efluentes invadindo a área ambiental”, afirmou o pesquisador.

O governo do Estado, através da Secretaria do Meio Ambiente, responsável pela fiscalização, estava com a mesma posição da multinacional e negava a ocorrência de vazamento da chamada lama vermelha. Com a divulgação do laudo pelo IEC, tanto a empresa quanto o governo tiveram que recuar e divulgaram nota dizendo que vão estudar o laudo. O Instituto recomendou ao governo que garanta água potável para a população atingida sob pena de grave dano à saúde das pessoas.

Segundo a perícia, a empresa não tem capacidade de tratar os seus efluentes, e o IEC recomenda que, neste momento de chuvas fortes, seja reduzida ou suspensa a produção, porque as bacias não irão suportar o grande acúmulo de material. “Se a empresa continuar com a elevada produção, novos vazamentos ocorrerão sem dúvida alguma, principalmente neste período de chuvas intensas”. O crime lembra o que ocorreu em Mariana-MG com a destruição do vale do Rio Doce pela atuação da Samarco, uma união entre a Vale e a australiana BHP Billiton (leia mais aqui).

Já foram instaurados dois inquéritos pelo Ministério Público do Pará para apurar as denúncias de vazamentos ocorridos em Barcarena. Um inquérito civil foi instaurado pela Promotoria de Justiça de Barcarena e está sendo elaborado a partir de informações colhidas pelos promotores de justiça Laércio Guilhermino de Abreu e Daniel Barros.

O segundo inquérito, instaurado pela promotora Eliane Moreira, da 1ª Região Agrária, apura os impactos socioambientais possivelmente provocados pelo vazamento, em especial os que podem ter afetado comunidades rurais e territórios de Barcarena onde vivem ribeirinhos e comunidades tradicionais. As atividades da Hydro Alunorte também serão alvo de investigação durante este procedimento.

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