A água não tem dono

A água não tem dono

FAMA se contrapõe ao fórum das corporações pela defesa da água como um bem público

Por Guilherme Weimann/ MAB

Desde o início do ano, uma complexa estrutura está sendo montada em Brasília para abrigar, entre os dias 18 e 23 de março, o Fórum Mundial da Água. Com o apoio do Governo do Distrito Federal, serão utilizados 38 mil metros quadrados do Estádio Mané Garrincha, além do Centro de Convenções Ulysses Guimarães.

De acordo com o Assessor de Saneamento da Federação Nacional dos Urbanitários, Edson Aparecido da Silva, o Fórum é organizado pelo Conselho Mundial da Água, criado em 1996 na França com interesses de mercantilizar a água. “Sua estratégia é criar mecanismos que coloquem a água como mercadoria geradora de lucro, na medida em que se trata de um insumo estratégico da produção e reprodução do capital”.

Silva também questiona o slogan “Compartilhando Água”. “Nos perguntamos: compartilhando água de quem, pra quem, e pra quê?”. Na plateia do evento, estarão representantes de governos, empresas de saneamento e, principalmente, grandes corporações como Coca-Cola e Nestlé.

Paralelamente a esse evento, ocorrerá no Parque da Cidade, também no Distrito Federal, o Fórum Alternativo Mundial da Água (FAMA), construído por movimentos populares, sindicatos e ONGs. Com o lema “Água é um direito, não mercadoria”, o principal objetivo é fazer um contraponto ao fórum “oficial”.

Segundo o integrante da coordenação nacional do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), Gilberto Cervinski, o principal objetivo é combater a ideia de privatização da água. “Nós somos contra o estabelecimento de propriedade privada sobre a água. Nós não aceitamos a privatização dos rios, dos serviços de abastecimento, das nascentes, ou das águas subterrâneas. A água não tem dono. O verdadeiro dono é o povo”.

Saneamento público

Nos últimos anos, o mundo tem visto um processo de reversão das privatizações que ocorreram no saneamento, que inclui abastecimento de água e tratamento do esgoto. De acordo com reportagem do jornal espanhol El País, entre 2000 e 2015 foram registrados 235 casos de remunicipalização, grande parte concentrados na Europa. Paris foi um exemplo e apenas em 2010, primeiro ano da remunicipalização, economizou 35 milhões de euros e reduziu as tarifas em 8%.

No Brasil, apesar da tendência à privatização, a prefeitura de Itu (SP) retomou os serviços de saneamento em 2016. Após oito anos [2007-2015], a gestão privada causou o maior racionamento da história cidade, o que gerou intensos protestos da população.

DEPOIMENTOS

Sem água não existe produção de alimentos, não existe vida. Lutar pelos recursos naturais, defendendo a soberania alimentar do país, e lutar para democratizar o acesso à água é a resistência da vida contra o capital”, afirma Josineide Costa, integrante da coordenação do Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA).

Devemos defender que todo ser humano tenha direito à água. Para isso, precisamos nos mobilizar, lutar e enfrentar os interesses do capital estrangeiro e financeiro, para fazer valer esse princípio, que até o Papa Francisco tem se levantado a favor”, afirma João Pedro Stédile, dirigente do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST).

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